Análise Tática: Vitória 3×2 Corinthians – Campeonato Brasileiro 2016
A sensação de alívio tomou conta dos presentes no Estádio Manoel Barradas, o Barradão, quando o árbitro Héber Roberto Lopes apitou o final da partida. O Vitória conseguiu seu primeiro triunfo na competição, diante do atual campeão, o Corinthians.
Diferente do que esse colunista tanto bateu nas redes sociais, Mancini optou por fazer uma marcação alta, tentando sufocar a saída de bola do Corinthians. Não digo que a estratégia foi errada porém, como já esperado, não funcionou.
O primeiro motivo da não funcionalidade dessa estratégia é que vários adversários já tentaram esse tipo de ação contra a equipe paulista, por isso Tite já treina seu grupo para suportar a pressão e conseguir encontrar o companheiro em condições de receber o passe. O segundo é que o time que escolhe fazer a marcação alta tem que ter sido bastante treinado, pois exigirá o máximo de atenção e sincronismo dos jogadores para dar pressão no portador da bola e cortar as opções de passe mais próximas, forçando o chutão adversário para assim conseguir retomar a posse.
A estratégia deu certo até os cinco minutos. Após isso, o Corinthians tomou conta da partida, fez seu primeiro gol e poderia ter deixado o primeiro tempo com um placar muito mais elástico que o 2 x 1.
Na imagem, percebe-se a realização da marcação alta pelo Vitória. São 8 jogadores em campo ofensivo, porém, notem como existem três jogadores adversários (círculos amarelos) em condições de receber o passe. Tal condição poderia ser ideal para um contra-ataque corinthiano.
Outro fator interessante é o posicionamento de cinco atletas do Vitória após a linha da bola, ou seja, eles não podem fazer mais nada em termos de construção ofensiva. O posicionamento dos zagueiros rubro-negros, que estão na linha do meio campo, também não está correto. Qualquer movimentação dos meias corinthianos não geraria impedimento.
No lance do primeiro gol do Corinthians ocorreu mais um erro de fechamento de espaços. Em vários jogos, a marcação do Vitória perde o tempo da abordagem e não consegue chegar a tempo de interceptar o passe. Vejam como Marinho parte atrasado na perseguição ao lateral Uendel.
Agora vejam mais problemas por outro ângulo. O meia do Corinthians, Guilherme, está solto, José Welison abandona a primeira linha para dar o combate dando ainda mais espaço para a penetração de Uendel, autor do gol. Erro de Marinho que deixou o lateral passar em suas costas, erro de Welison que quebrou a linha para dar o combate e erro de todo o sistema defensivo por ter deixado o meia adversário livre em uma zona mortal.
O Corinthians é uma equipe muito organizada e difícil de ser batida. Por isso, o feito do Vitória merece muitos aplausos. Na imagem, o Corinthians bem compactado no 4-1-2-3, uma das variações utilizadas durante a partida, assim como o 4-1-4-1 e 4-2-3-1. Jogadores próximos, se movimentado e dando opções de passe a todo instante, com movimentos bem sincronizados.
Agora, notem a proximidade dos jogadores gerando inúmeras ligações e opções de passe. Difícil roubar a bola de uma equipe tão bem organizada.
O Vitória começou a virar o placar na volta do intervalo, com os jogadores demonstrando mais vontade e buscando o empate, apesar de tática e tecnicamente o Corinthians ainda ter vantagem. O gol de Marinho, após uma boa jogada entre Kieza e Vander, deu um novo gás ao rubro-negro e enfim, permitiu que a equipe começasse a utilizar a estratégia mais acertada.
Após o empate, o Vitória colocou os 11 jogadores atrás da linha da bola negando os espaços ao Corinthians, coisa que deveria ter feito desde o início. Sem espaço em campo ofensivo, a equipe paulista passou a ter dificuldades para criar, e o Vitória aproveitou o bom momento com um belo gol originado após um toque por cima de Leandro Domingues para Kieza, que com muita frieza empurrou a bola para o fundo das redes.
“Leandro Domingues para Kieza”. Por diversas vezes comentei, através do twitter, que a melhor maneira de utilizar Domingues, o jogador mais técnico e criativo do elenco, seria próximo ao atacante. A razão é que o mesmo já não possui dinâmica para atuar numa segunda linha e consegue ajudar na marcação e tão pouco o ataque, sobrecarregando todo o time.
Quando o Vitória colocou os 11 atletas atrás da linha da bola, a equipe se armou no 4-4-2 com Kieza e Leandro Domingues marcando a linha de passe dos zagueiros. Vander e Marinho fechavam a segunda linha junto de Marcelo e Amaral. O time ficou atento, fechando os espaços, e explorando o contra-golpe com lançamentos para Marinho que buscava o postado de Uendel.
O Vitória precisa atuar assim contra os grandes. Reconhecer a limitação técnica, mas superar com a tática e força. Não da para enfrentar um Corinthians de igual para igual como Mancini tentou. Sorte do Vitória que o time paulista não matou o jogo quando teve as oportunidades, dando chance a reação rubro-negra.
Os jogadores estão de parabéns pela disposição em campo e por não ter se entregado. Mancini também merece créditos por ter revisto sua estratégia e ter escolhido o plano correto ao posicionar o time no 4-4-2, visando o contragolpe.
Alguns destaques individuais:
Marcelo: Apesar de ter errado alguns passes (precisa aprimorar o fundamento), foi o jogador que mais desarmou na partida (6 desarmes), sendo um dos pilares para não deixar o time se entregar.
Kieza: Alguma pessoas dizem que Kieza não sabe ser pivô. Meu Deus! Como sabe jogar de costas, além disso, a boa movimentação para os lados e para trás é um diferencial. Marcou o gol do triunfo e ajudou na jogada do segundo tento.
Fernando Miguel: Salvou bolas importantes, tanto no início como na reta final. O primeiro gol pode ter sido defensável.
Marinho: Jogou demais no segundo tempo. É o jogador mais vertical do time, que tenta a jogada individual com foco em encontrar o espaço para o arremate.
Diego Renan: Ganhou praticamente todas as bolas no segundo tempo, dando uma boa proteção ao lado esquerdo do sistema defensivo.
Autor: Cássio Santos
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