Análise Tática: Remo 2×0 Fortaleza – Série C 2016
Atitude. Compactação. Aproximação. Coragem. Vontade. Raça. Paixão. “Remismo”. Algumas palavras que o torcedor do Clube do Remo vinha sentindo falta quando olhava o time atuando em Belém. Demoramos 8 jogos para vermos todas elas juntas, fomentando uma bela atuação e fazendo-a ser um norte de que um bom desempenho constante não está tão longe de ser alcançado.
Na primeira partida em Belém como treinador do Remo, Waldemar Lemos manteve a nova estrutura inicial, partindo do 4–2–3–1 alternando para o 4–4–2 em linha. As novidades ficaram por conta das entradas de Héricles e Ciro, atuando mais próximo de Edno, como segundo atacante. Dessa forma, Lemos buscou ganhar maior aproximação no terço final e dar oportunidade a Edno e Eduardo Ramos de terem outra opção mais próxima de tabelar quando em ação ofensiva.
Uma modificação importante nos últimos dois jogos está na disposição defensiva. Ao invés das tradicionais duas linhas de quatro, a equipe defendeu-se no 4–2–3–1, com o maior recuo de Eduardo Ramos na marcação ao volante adversário e um melhor balanço defensivo dos volantes e pontas. Héricles e Ciro alinhavam-se ao meia, e não mais aos dois volantes. Isso permitiu um maior avanço das linhas e permitiu que a zona pressionante fosse na linha do meio-campo.
Héricles fechava os espaços de Railan e Ciro marcava Elivelton, com Eduardo Ramos colando em Juliano. Dessa maneira, as saídas laterais e central do Fortaleza ficaram bloqueadas, fazendo a equipe recorrer à saída longa ou exagerar na lateralização do jogo, perdendo tempo e permitindo o avanço das linhas do Remo.
Outro aspecto ficou por conta da boa aproximação dos volantes para criarem superioridade numérica nos lados. Michel Schmöller e Yuri aproximavam-se dos pontas para evitar ultrapassagens e fechar as linhas de passe, além de fazerem ótimo trabalho de contenção. Dessa maneira, a equipe fazia “campo pequeno”, jogando em 35 metros longitudinalmente. O centro de jogo sempre estava ocupado, ajudando também a equilibrar a equipe.

Bom trabalho de Schmöller e Yuri proporcionou superioridade numérica pelos lados, boa contenção, equilíbrio e não deixava espaços entrelinhas.
Quando em ação ofensiva, percebia-se uma eterna busca por aglutinação dos jogadores próximos à bola. Muitas vezes via-se um losango sendo formado para abrir espaços às subidas dos laterais e gerando opções de triangulações e ocupação de espaços. Houve sincronismo nas movimentações, haja vista que nenhum espaço ficava desocupado e as coberturas eram feitas corretamente. A participação dos volantes também foi um ponto positivo, fazendo a equipe atacar com mais jogadores e povoar mais o campo ofensivo.

Losango no ataque feito pela aproximação entre os jogadores permitia avanços dos laterias. A participação dos volantes também foi fundamental como retornos e infiltrando bastante para desorganizar a defesa.
A partir do momento em que um dos laterais alcançava a zona de cruzamento, viu-se a nova orientação: o extremo oposto entrava na área na zona da segunda trave, Edno buscava a antecipação no primeiro poste e Eduardo Ramos ocupava a zona central. Essa densidade foi importante para a criação de chances. O ponta do lado da bola recuava e centralizava para tabelar e superiorizar o centro de jogo.
Quando isso acontecia, imediatamente os volantes e o lateral oposto avançavam para evitar o contra-ataque e compactar a equipe. Os rebotes eram quase sempre azulinos, sufocando o adversário e garantindo equilíbrio. A pressão era logo exercida e os jogadores entravam em transição defensiva atacando a bola. Assim, a posse de bola rapidamente era recuperada e logo havia nova circulação da bola nos setores médio-ofensivo e ofensivo.

Volantes e lateral oposto avançavam para não espaçar a equipe, pegar a segunda bola e pressionar rapidamente o adversário. Zagueiros também avançavam a última linha para a realização das coberturas.
No início da construção ofensiva, Eduardo Ramos recuava e vinha buscar a bola com os volantes, aproveitando que Juliano não o acompanhava. Ao mesmo tempo, Levy e Wellington Saci abriam para dar amplitude e serem opções de passes assim que a bola estava com os volantes ou o meia. Ciro e Héricles centralizavam para haver triangulação e Edno prendia dois zagueiros. Com essas movimentações e havendo sincronismo, a saída de bola foi mais limpa e organizada.
Sempre que a bola estava com um dos laterais, Edno recuava, atraindo um zagueiro e gerando espaços às costas da zaga para a ocupação por parte do meia e do atacante do lado oposto. Essas infiltrações confundiam a marcação, originando o primeiro gol. É importante perceber que, em todos os 4 momentos do jogo houve compactação.

Recuo de Edno e movimentações dos outros atacantes confundiram a marcação e ocasionou o primeiro gol do jogo.
Waldemar Lemos soube aproveitar a semana de trabalho para operacionalizar seus princípios e fazer com que a equipe tivesse estratégias bem definidas para o jogo. Os princípios táticos fundamentais foram bem executados, com seus sub-princípios também vistos durante o confronto, interagindo de maneira eficaz sob o modelo de jogo proposto pelo treinador.
Agora teremos mais uma semana pela frente até o próximo jogo. Tempo para os jogadores absorverem ainda mais as nuances do jogo que buscam, para o treinador avaliar as melhores opções, buscando a constância deste padrão de atuação. A boa partida não pode ser um oásis no deserto, e sim uma a mais dentro da correta execução dos princípios do modelo.
Autor: Caíque da Silva
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